Título completo: Grammatica Historica da Lingua Portugueza
Local de publicação: Cayeiras/São Paulo
Quantidade de edições: ?
Editora: Companhia Melhoramentos de São Paulo (Weiszilog Irmãos incorporada)
Gramática comparada
- “Alem disso, o estudo comparado do ponto de vista evolutivo veio revelando, com grande surpresa minha, factos linguisticos cuja existencia a principio nem suspeitava.” (sic, prólogo).
- “Sem a menor preoccupação de descobrir novidades ou tratar questões linguisticas melhor do que outros o haviam feito, não podia contudo deixar de ir directamente às fontes buscar a solução dos problemas, porque a isto me obrigava a natureza do trabalho.” (sic, prólogo).
- “Não dissocio do homem pensante e da sua psychologia as alterações por que passou a linguagem em tantos séculos. E a psychologia elemento essencial e indispensável à investigação de pontos obscuros.” (sic, prólogo).
- “As mesmas leis phoneticas seriam inexistentes sem os processos da memória e da analogia. Até o esquecimento, a memória negativa, é factor, e dos mais importantes, na evolução e progresso de qualquer idioma.” (sic, prólogo).
- “U tônico pronunciado em latim como vogal longa passou ao portuguez sem soffrer modificações: uva (üva), lume (lümen), luz (lüce-) […]” (sic, p. 7)
- “Comparando-se port. noz, cruz e ital. noce, croce; port. junto, ponto, hesp. e ital. junto, punto; port. surdo, tordo, hespanh. e ital. sordo, tordo […]” (sic, p. 9)
Gramática histórica
- “Descance em paz a contenda sobre a conveniencia ou inconveniencia de guardar costumes antigos; sómente advirto que deixará de ser historico o estudo de vocabulos que desprezar as alterações semanticas.” (sic, prólogo)
- “Distingo no portuguez historico dous periodos principaes: o portuguez antigo, que se escreveu até os primeiros annos do seculo XVI, e o portuguez moderno.” (sic, prólogo)
- “Não ficou, nem podia ficar, estacionário o portuguez moderno; e assim temos de designar pelos qualificativos quinhentista, seiscentista e setecentista a linguagem própria das respectivas eras.” (prólogo).
- “Ignora-se a data ou momento exacto do apparecimento de qualquer alteração linguistica. Neste ponto nunca será a linguagem escripta espelho fiel do que se passa na linguagem falada.” (sic, prólogo).
- “Constituíam os dous volumes uma grammatica historica que, sem desprezar a evolução do latim para o portuguez, estudava particularmente as alterações do idioma nas diversas phases do portuguez historico, isto é, no largo periodo decorrido desde o tempo que se conhece o portuguez como lingua formada e usada em documentos.” (sic, prólogo da Grammatica historica).
- “Terreno vasto, árido e difícil de lavrar é a perspectiva que se oferece a quem se lembra de estudar o desenvolvimento de um idioma como o portuguez desde a remota phase dos primeiros documentos, escriptos até os nossos dias.” (sic, prólogo).
- “O portuguez antigo legou-nos, além dos textos de leis, foraes, ordenações, etc., os Cancioneiros, a História do Santo Graal, a de S. Amaro, a lenda de S. Barlaão e S. Josaphate, o Livro de Esopo […]” (sic, história resumida da língua portugueza, p. 1)
- “Transformou-se o latim em tantos idiomas novos principalmente porque teve de se acomodar a antigos hábitos de pronúncia dos povos que o adoptaram […]” (história resumida da língua portugueza, p. 1)
- “Nos séculos que precederam a era quinhentista, claro está que a linguagem sofreu também evolução.” (prólogo)
OBJETIVOS DO AUTOR
- “Escrevi este livro com o intuito de expôr sómente as conclusões a que chegara depois de ler e cotejar muitos e differentes textos. Citei provas e exemplos. Não tomei compromisso de discretear com assumptos interessantes e questões obscuras para cuja solução não encontrei elementos bastantes no passado do idioma, ou na comparação deste com outros.” (sic, prólogo, p. V)
- “A parte complementar que a Lexeologia reclamava sahia a lunne dous annos depois. Constituiam os dous volumentos uma grammatica historica que, sem desprezar a evolução do latim para o portguez, estudava particularmente as alterações do idioma nas diversas phases do portuguez historicio, isto é, no largo periodo decorrido desde o tempo que se conhece o portuguez como lingua formada e usada em documentos.” (sic, prólogo da Grammatica Historica, p. VI)
- “Sem a menor preoccupação de descobrir novidades […] não podia contudo deixar de ir directamente às fontes buscar a solução dos problemas, porque a isto me obrigava a natureza do trabalho.” (sic, prólogo, p. V–VI)
CONCEPÇÃO DE LÍNGUA, NORMA E GRAMÁTICA
Língua
Não possuí uma definição exata, todavia, o autor pontua:
- “Não dissocio do homem pensante e da sua psychologia as alterações por que passou a linguagem em tantos séculos. E a psychologia elemento essencial e indispensável à investigação de pontos obscuros.” (sic, Prólogo, p. V)
- A língua é entendida como manifestação humana e psicológica, produto da inteligência, da memória e da convivência social.
- “Ignora-se a data ou momento exacto do apparecimento de qualquer alteração linguistica. Neste ponto nunca será a linguagem escripta espelho fiel do que se passa na linguagem falada.” (sic, Prólogo, p. VII)
- Para Said Ali, a língua é dinâmica, mutável, e a escrita apenas registra parcialmente suas transformações.
- “Não ficou, nem podia ficar, estacionario o portuguez moderno.” (sic, Prólogo, p. VI)
- A língua como um organismo em constante evolução, submetido a transformações fonéticas, semânticas e lexicais.
- “Transformou-se o latim em tantos idiomas novos principalmente porque teve de se acomodar a antigos hábitos de pronúncia dos povos que o adoptaram.” (sic, História resumida da língua portugueza, p. 3)
- A língua evolui por contato, adaptação e uso social, revelando a influência de fatores externos e culturais.
Norma
- “O enriquecimento do vocabulario com expressões e processos devidos ao estrangeiro perdura no portguez hodierno. Perdura tambem a reacção purista, implacavel em alguns casos, e complacente em muitos outros.” (sic, p. 6).
Gramática
- Não possuí uma definição exata de gramática, entretanto evidencia uma concepção implícita de caráter histórico e descritivo, voltada ao estudo da evolução da língua portuguesa em suas diferentes fases. Said Ali compreende a gramática como um instrumento de investigação científica, responsável por analisar as transformações fonéticas, morfológicas e semânticas ocorridas ao longo do tempo, sem se limitar à prescrição de regras normativas.
- Essa perspectiva pode ser observada em trechos como:
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- “Constituíam os dous volumes uma grammatica historica que, sem desprezar a evolução do latim para o portuguez, estudava particularmente as alterações do idioma nas diversas phases do portuguez historico.” (sic, Prólogo da Grammatica Historica, p. VI)
- A gramática é compreendida como instrumento de análise histórica, voltado à explicação da mudança linguística.
- “Adoptado semelhante methodo de pesquisa, adquiriu o livro certo aspecto de lexeologia semântica […] destoando assim do vetusto systema de classificação.” (sic, Prólogo, p. V)
- Said Ali propõe uma gramática científica e descritiva, que analisa o funcionamento real da língua em vez de seguir modelos normativos.
- “Descance em paz a contenda sobre a conveniencia ou inconveniencia de guardar costumes antigos; sómente advirto que deixará de ser historico o estudo de vocabulos que desprezar as alterações semanticas.” (sic, Prólogo, p. VI)
- A gramática deve refletir a história viva da língua, e não a conservação de formas arcaicas.
- “Sem a menor preoccupação de descobrir novidades […] não podia contudo deixar de ir directamente às fontes buscar a solução dos problemas, porque a isto me obrigava a natureza do trabalho.” (sic, Prólogo, p. V–VI)
- O estudo gramatical deve apoiar-se em documentos autênticos e observação direta dos fatos linguísticos.
ESTADO DA ARTE
- DA COSTA, Thaís de Araujo. Grammatica historica da lingua portugueza de Said Ali cem anos depois: considerações acerca do movimento de (res) significação de uma obra. Línguas e Instrumentos Linguísticos, v. 24, n. 48, p. 61-109, 2021.
- ANTUNES, Ciro Carlos. O caso de concordância na “Grammatica Historica da Lingua Portugueza” de M. Said Ali. Verbum, n. 2, p. 72-88, 2012.
- JUNIOR, Raul Martins Queiroz; DE JESUS, Carlos Renato R. HISTORICA DA LINGUA PORTUGUEzA, de SAid Ali (1931), e nA MODERNA GRAMÁTICA. O discurso metalinguístico e suas interfaces: postulados antigos, novas incursões, p. 90.
REFERÊNCIA
ALI, M. S. Grammatica Historica da Lingua Portugueza. 2ª edição melhorada e augmentada de Lexeologia do Portuguez Historico e Formação de Palavras e Syntaxe do Portuguez Historico. São Paulo – Cayeiras – Rio: Companhia Melhoramentos de São Paulo (Weiszflog Irmãos incorporados), 1921.