Sociolinguistica

A partir da década de 1960, viu-se emergir e consolidar na América do Norte, a Sociolinguística , disciplina que concebe a “linguagem como um instrumento de comunicação empregado por uma comunidade de fala” (LABOV, 1996 [1972], p. 41). Ao proceder ao estudo da língua considerando seu funcionamento e entorno de enunciação foi possível perceber que a classe social a que pertencemos impõe-nos algumas normas de comportamento e as reforça graças à força do exemplo das pessoas com que nos associamos com maior proximidade. Os subelementos da classe social incluem educação, ocupação, tipo de residência e desempenham um papel em determinar as pessoas com quem teremos contatos diários e relacionamentos mais permanentes (CHAMBERS, 2003, p.07).

Assim, a grande contribuição dessa disciplina foi comprovar empiricamente e sistematicamente que a linguagem é uma manifestação da conduta humana e, como tal, traz à tona marcas do contexto social em que está inserida. Em outros termos, os falantes marcam a história e a identidade pessoais em sua fala; fornecendo, por conseguinte, coordenadas socioculturais, econômicas e geográficas, no tempo e no espaço (TAGLIAMONTE, 2006, p. 3).

Silva-Corvalán (1989) afirma ser vital, dentro Sociolinguística, a percepção de que a língua se organiza primariamente para cumprir uma função comunicativa e social, de modo que ao estudá-la como comportamento, a Sociolinguística se concentra na variedade de formas como a língua é usada e a trata como “objeto complexo no qual se conectam tanto as regras do sistema linguístico como as regras e fatores sociais que atuam no ato de comunicação” (SILVA-CORVALÁN, 1989, p. 2). Dessa feita, é possível relacionar os estudos sociolinguísticos a uma abordagem mais funcionalista, posto que, sob essa perspectiva, subordina-se o estudo da linguagem ao uso (funcionamento), respeitando os contextos sociais específicos em que ocorre.

Diferentes questões podem conduzir essa disciplina a diferentes modos de proceder à linguagem, originando enfoques como o da “Sociolinguística Variacionista”, da “Sociologia da Linguagem”, da “Etnografia da Linguagem”, entre outros (TAGLIAMONTE, 2012, p. 35).

Por meio de uma teoria e uma metodologia bem acuradas, a Sociolinguística Variacionista trata do exame da língua em seu contexto social a fim de encontrar solução a problemas próprios da teoria da linguagem, tais como a variação e a mudança linguísticas (CAMACHO, 2013, p. 36). Segundo ainda descreve Tagliamonte (2006):

A Sociolinguística Variacionista é mais apropriadamente descrita como o ramo da linguística que estuda as principais características da linguagem em equilíbrio entre si – estrutura linguística e estrutura social; significado gramatical e significado social –, as propriedades da linguagem que requerem referência tanto dos fatores externos (sociais) e como dos internos (sistêmicos) em sua explicação (TAGLIAMONTE, 2006, p. 5).

Desse modo, busca-se relacionar a variação linguística, isto é, os elementos das línguas que variam (variável dependente) com outros fatores (variáveis independentes) que, de algum modo, afetam e auxiliam na compreensão do fenômeno variável. Esses fatores podem ser externos à língua – relacionados a aspectos do contexto social, da situação de enunciação, da idade e origem dos falantes –, ou internos a ela – relacionados ao entorno linguístico em que ocorrem os fenômenos em variação. É a partir desse procedimento que se identificam os padrões linguísticos que explicam os fenômenos sob investigação.(ARAUJO, 2019, pp.129-131)

ARAUJO, L. S. A variação e a mudança linguísticas pela Sociolinguística: pressupostos para o estudo da língua em uso. Revlet- Revista Virtual de Letras, v. 11, p. 127-142, 2019.